Vaivém – Área de plantio de trigo deve ter redução de até 10% no Brasil
Colheita de trigo no município de Juranda, região centro-oeste do Paraná
As máquinas já estão no campo semeando o trigo, e o cenário para o cereal parece bastante incerto neste ano.
Do lado interno, os agricultores ainda têm dúvidas sobre a política econômica do governo, que inclui seguro agrícola e preços mínimos para o produto.
Além disso, o bom preço do milho –auxiliado pelas exportações em níveis recordes– faz o produto roubar espaço do trigo.
Do lado externo, os produtores brasileiros não terão o cenário favorável de preços de há três safras. Os estoques mundiais estão elevados, e os preços externos caem –dificultando também uma recuperação interna.
Além disso, a vizinha Argentina, com a produção estrangulada nos recentes anos por uma política governamental desastrada, está de governo novo, que promete apoio ao setor.
Resta de consolo para os produtores o dólar elevado, que encarece as importações. Mas até quando o dólar estará nesse patamar?
À medida que o governo atual fica cada vez mais perto de uma situação insustentável, o valor do dólar recua.
Diante desse cenário e dos custos elevados de produção, Hugo Winckler Godinho, do Deral (Departamento de Economia Rural) do Paraná, prevê um recuo de 5% a 10% na área ser cultivada neste ano.
Os produtores estão desanimados com o trigo, segundo ele. E os que podem plantar milho vão optar por essa cultura, mesmo que o período ideal de plantio tenha terminado.
Irineu Baptista, gerente técnico da cooperativa Integrada, concorda com Godinho. "O produtor busca o que é mais rentável e o que dá maior garantia na hora da comercialização."
O milho neste momento é um bom negócio para os produtores. Além de maior rentabilidade, as novas tecnologias elevaram em muito a produtividade do cereal.
Por isso, Baptista acredita em um avanço da área de milho e redução da de trigo.
CRONOGRAMA
Robson Mafioletti, da Ocepar (Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná), acredita que as dificuldades dos produtores aumentam ainda mais pela falta de uma política para o setor.
É necessário um cronograma de apoio governamental para a comercialização, além de uma subvenção ao prêmio de seguro agrícola do produto para 70%, segundo ele.
O representante da Ocepar aponta, ainda, a necessidade de uma correção dos preços mínimos com base na elevação de custos dos produtores.
De 2014 a 2015, enquanto a correção dos preços mínimos foi de 5%, o aumento dos custos de produção chegou a 19% em algumas regiões do Paraná, segundo a Ocepar.
As cooperativas pedem ao governo um reajuste do preço mínimo para R$ 665 por tonelada neste ano.
OFERTA MUNDIAL
A produção nacional de trigo foi de 5,5 milhões de toneladas no ano passado, abaixo da importação, que foi de 5,75 milhões.
A produção mundial, que estava em 657 milhões de toneladas há três safras, subiu para 732 milhões neste ano.
A produção acima do consumo forçou uma elevação dos estoques mundiais, que estão em 213 milhões de toneladas, segundo o IGC (International Grains Council).
E a Argentina, tradicional fornecedora de trigo do país –e que estava fora de mercado devido à queda da produção interna–, deverá voltar a fornecer cereal para o Brasil.
Com a volta da produção argentina para volumes próximos de 11 milhões de toneladas, a disponibilidade de exportação será de pelo menos 7 milhões de toneladas. Esse produto concorre diretamente com o brasileiro no mercado interno.
Dirceu Portugal/Folhapress
Por Mauro Zafalon
Mauro Zafalon é jornalista e, em duas passagens pelaFolha, soma 40 anos de jornal. Escreve sobre commodities e pecuária. Escreve de terça a sábado.
Fonte : Folha