Vaivém – Apesar da queda, estoque de algodão atinge até 92% do consumo
Campo de algodão na China; país é uma das responsáveis pela desaceleração de preços
O cenário do algodão não é bom para os produtores mundiais, embora lentamente se concretize uma melhora na relação entre estoque e consumo mundiais.
A avaliação é da analista Daniele Siqueira, da AgRural de Curitiba. O setor paga pelo excesso de estoques de há dois anos, o que trouxe os preços para baixo e uma consequente redução da área de plantio.
Segundo o Icac (um comitê internacional de algodão), os estoques finais da safra 2015/16 terão a primeira queda desde 2009/10.
Nos cálculos do comitê, o volume final desta safra será de 20,45 milhões de toneladas, 8% inferior ao do período anterior. Apesar dessa queda, o algodão em estoques ainda corresponde a 86% do consumo de um ano.
Os números do Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) indicam uma situação ainda mais complicada.
Na avaliação do órgão, após somar 102% do consumo mundial no período 2014/15, os estoques dessa safra 2015/16 somam 92% do consumo mundial.
Os preços internacionais, devido aos estoques elevados, patinam, e a remuneração dos produtores deverá ficar complicada em vários locais onde os custos de produção sobem. Em Mato Grosso, por exemplo, os custos de produção são recordes, segundo o Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária).
Mas o cenário fica ainda mais complicado com a volta do petróleo aos patamares de US$ 30 por barril.
O preço das fibras sintéticas, concorrentes das têxteis, está em queda e com valores ainda mais acessíveis, segundo Siqueira.
A China é uma das grandes responsáveis pela desaceleração de preços. O país tem atualmente mais da metade dos estoques mundiais de algodão. São 12 milhões de toneladas.
A menos que ocorra algum problema com esse produto, esse volume elevado de algodão vai segurar os preços internacionais.
Essa relação atual de estoque de 92% ante o consumo mundial, é bem superior à média dos últimos dez anos, quando esse percentual era de 65%.
Dados do Icac desta semana, referentes à safra 2016/17, indicam que a produção mundial volta a ser inferior ao consumo.
Enquanto o consumo mundial sobe para 24 milhões de toneladas, a produção estará em 23 milhões.
Por Mauro Zafalon
Mauro Zafalon é jornalista e, em duas passagens pelaFolha, soma 40 anos de jornal. Escreve sobre commodities e pecuária. Escreve de terça a sábado.
Fonte : Folha