Moagem na região Centro-Sul vai somar 568 milhões de toneladas
Fonte: Ellen Cordeiro | Para o Valor, de São Paulo
As marcas da crise econômica de 2008 ainda estão vívidas no setor sucroalcooleiro brasileiro. Neste início de colheita na região Centro-Sul, os canaviais ainda se ressentem da turbulência dos últimos anos. "Vários problemas resultaram no quadro atual, de dificuldades de financiamento das lavouras e das fábricas até condições climáticas desfavoráveis", afirma Sérgio Prado, representante da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) em Ribeirão Preto (SP). Em sua previsão para a safra atual (2011/12) divulgada em março passado, a Unica estima que a moagem de cana no Centro-Sul somará 568,50 milhões de toneladas, o que representa elevação de 2,11% sobre a safra anterior – uma taxa de crescimento modesta comparada à s safras anteriores.
"A crise mundial pegou o setor altamente endividado, diante dos investimentos em expansão da atividade", afirma Prado. Com isso, os investidores estrangeiros, que poderiam injetar recursos em novas unidades, acabaram por se voltar à s empresas em dificuldades, o que limitou o crescimento dos chamados greenfields, no caso, novos canaviais. Pelos cálculos da Unica, o Centro-Sul deixou de produzir 5 bilhões de litros de etanol por problemas climáticos nos últimos anos. De acordo com Júlio Maria Martins Borges, da JOB Economia e Planejamento, o crescimento da produção de cana no Brasil vinha em ritmo acelerado, mantendo média de crescimento de 8,3% ao ano durante quatro anos. "O Centro-Sul chegou a ter aumento de 74 milhões de toneladas na produção de cana em 2008 em relação ao ano anterior, o que representa área igual à da Tailândia, o segundo maior exportador de açúcar do mundo, depois do Brasil".
Na avaliação de Borges, o surgimento de novas áreas de cana esteve, durante anos, associado ao crescimento econômico mundial e à alta do preço do petróleo, que chegou atingiu seu pico em julho de 2008, quando foi negociado na faixa de US$ 145 o barril. Segundo ele, a crise daquele ano colocou a viabilidade do setor em xeque no Brasil, uma vez que o avanço dos greenfields estava voltado para a produção de álcool. Resultado: queda na renovação dos canaviais.
Pelos cálculos de Plínio Nastari, da consultoria Datagro, a renovação dos canaviais, que ocorria na faixa de 16,5% a 18% ao ano em média, despencou para 4,5% depois da crise. Além do endividamento alto das usinas e dos problemas climáticos, o setor sucroalcooleiro também foi prejudicado pelo aumento dos custos de produção, principalmente mecanização, mão-de-obra e insumos como fertilizantes e fungicidas, afirma Nastari, bem como os gastos que se referem a carregamento, transporte e o custo de logística, têm prejudicado a competitividade do Brasil em relação ao etanol e ao açúcar: "Os Estados Unidos vão exportar 3 bilhões de litros de álcool, enquanto o Brasil vai embarcar 1,9 bilhão de litros."
De acordo com Carlos Bestétti, gerente de levantamento e acompanhamento de safras da COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB), a renovação dos canaviais nos últimos anos não foi ideal, e muitas lavouras já estão no décimo segundo corte, quando deveriam ter parado no sexto corte. Pelos cálculos da CONAB, nos últimos quatro anos a área plantada cresceu 20% no Brasil, o que sustentou o crescimento da produção, um avanço de 12,5% no mesmo período, sendo prejudicada pelo envelhecimento das lavouras. Nesse quadro, os problemas climáticos representaram papel fundamental na desaceleração da produção brasileira de cana.