Crise castiga os agricultores


Mesmo assim, os produtores continuam plantando, mas com receio de não ter o que colher quando a crise acabar. “O Pnae é muito importante para nós. A expectativa é de que, quando passar toda essa confusão, a gente volte a fazer as entregas nas escolas”. Os cooperados vendiam para 34 colégios da região do Paranoá. “A saída vai ser apelar para o mercado privado, apesar de ser um nicho difícil de se trabalhar. Mas não dá para ficar parado. As pessoas precisam comer. Temos de encontrar novas formas de vender.” De acordo com o secretário de Agricultura, ainda é cedo para calcular o prejuízo do setor, mas os mais afetados são os pequenos agricultores. A pasta desenvolve um novo edital do Pnae com investimento de R$ 20,3 milhões, que deve ser lançado após o fim da quarentena. Ele explica que, como muitos produtores podem participar, a renda é mais bem distribuída. “Se, no passado, comprávamos de uma única instituição, agora, compramos de muitas. Outra vantagem é entregar produtos frescos e de qualidade aos estudantes.”
Escoamento Para ajudar a escoar a produção agrícola, o Governo do Distrito Federal (GDF) destinou R$ 2 milhões para a compra de frutas e verduras pelo Programa de Aquisição da Produção da Agricultura (Papa). Além disso, reabriu as inscrições para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), com verba de R$ 1,5 milhão do Ministério da Cidadania, com mais R$ 1 milhão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A expectativa é de atender entre 300 e 600 agricultores familiares.
As compras se dão a partir do pedido feito pelas Centrais de Abastecimento do Distrito Federal (Ceasa) e são passadas ao banco de alimentos, que entrega as cestas a 120 entidades sócio-assistenciais, como creches e abrigos de idosos. Quem se organizou e está participando, elogia. Ivan Engler, 42 anos, presidente da Coopermista, afirma que, graças à iniciativa, aumentou a produção.
Ele coordena 84 produtores de hortifruti na região de Planaltina, muitos dos quais vendiam para as merendas escolares de 64 centros de ensino da cidade. A demanda usada nas cestas verdes, entregues em instituições, aumentou de 12 para 44 toneladas. “Nosso edital começou a ser executado em outubro e, com o novo contrato em mãos, isso vai ajudar a escoar o que plantamos”, destaca. “O impacto inicial da crise foi muito grande, principalmente porque fecharam as feiras.” Ele avalia o momento como uma montanha-russa. “Nossas culturas precisam ser colhidas todo dia, não podemos armazenar. Se encalha tudo, isso repercute. Continuamos plantando, porque, se daqui a três meses não tiver o que colher, será pior”, pondera Ivan, que planta repolho, abóbora, maracujá e poncã. “Estamos vivendo outra realidade. Quando começou a crise de coronavírus, eu nem dormia.”
R$ 20,3 milhões Expectativa da Secretaria de Agricultura para o novo edital do Programa Nacional de Alimentação Escolar
Opção em domicílio
De olho nas vendas da Páscoa, muitos produtores se preparavam com otimismo. Agora, no entanto, sobram incertezas. Agricultora há 30 anos, Helena Ueno, 58 anos, precisou buscar soluções criativas para não perder o que planta na chácara no Riacho Fundo. Alface, acelga, almeirão, alecrim, arruda, couve, banana, limão e, principalmente, mandioca passaram a ser entregues nas casas dos clientes por um serviço de delivery. A ideia partiu dos filhos dela e está dando certo. Por dia, chegam 200 encomendas e a família consegue fazer, em média, 20 entregas.
Por uma questão de logística, eles atendem os moradores de Taguatinga, Águas Claras, Samambaia e Guará. Mesmo assim, as vendas diminuíram muito, quando comparadas à rotina da banca, que funciona na Feira do Guará. “Em quatro dias, eu vendia 500kg de mandioca. Agora, bem menos. Perdi muita produção e os pedidos que chegam não são o bastante para cobrir os custos com empregados e adubo.” Ela avalia que, caso a crise não passe logo, provavelmente terá de dispensar funcionários. “Precisei reduzir a plantação e sei que não sou a única. Se as coisas não melhorarem, vai faltar mercadoria no mercado e os preços vão subir”, prevê.
Agricultor em Brazlândia, Willian Okahara, 38 anos, também está preocupado. Ele e o pai plantam alface e observam queda nas vendas. “Para a semana santa, eu planejava colher 200 caixas, mas agora não sei o que fazer”, lamenta. Ele calcula que tenha tido prejuízo de R$ 2 mil.
Fonte: CORREIO BRAZILIENSE – DF