Campo e Lavoura – Vitivinicultura – Sobrou suco de uva nas cantinas
Queda nas vendas chegou a 20% no ano passado, segundo o Instituto Brasileiro do Vinho
Cerca de 30 milhões de litros teriam ficado nos estoques
Foto: Felipe Nyland / Agencia RBS
Contrariando a previsão de que faltaria suco de uva no ano passado, as cantinas fecharam o ano com estoques. A comercialização no Rio Grande do Sul teve uma retração de 20% no período de 12 meses — de novembro de 2015 a novembro de 2016. Em 2015, o setor vendeu 108 milhões de litros de suco integral, já em 2016 foram 87 milhões de litros. A informação é do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin).
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Para o vice-presidente da entidade, Oscar Ló, o principal motivo para a queda nas vendas foi o aumento do preço da matériaprima: a uva. A pressão no valor de insumos, da energia elétrica, do vidro e do ICMS (de 17% para 18%) elevou o preço médio na prateleira entre 25% e 30%, enquanto a economia em recessão impactou na capacidade de compra dos brasileiros. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o consumo das famílias caiu 4,5% em 2016.
— No ano passado, tivemos uma redução significativa da safra e, por consequência, houve uma elevação dos custos. As questões econômicas do país, como o elevado número de desempregados, também contribuíram para a retração — ressalta Ló.
Para o analista de negócios da Vinícola Mioranza, Daniel Mioranza, só não faltou bebida devido ao aumento do preço para o consumidor. Cerca de 40% do suco de uva da vinícola ficou no estoque. A cantina de Flores da Cunha processa 500 mil litros da bebida por ano. Em 2016, vendeu 300 milhões de litros. Para este ano, a empresa deve reduzir a produção de suco.
— O preço da uva aumentou e com isso também o custo (de produção). O suco chegou salgado ao bolso do consumidor que estava acostumado a pagar R$ 10 e agora paga R$ 15 o litro. Esse fator (o preço) foi determinante — detalhou Mioranza, explicando que os supermercados relutaram em adquirir a bebida com o valor mais alto.
O dirigente do Ibravin confirma a preocupação do início do ano passado de que poderia faltar suco no decorrer do ano. No entanto, por conta da retração do mercado, as cantinas ficaram com excesso de estoques:
— Não temos os números fechados, mas acredito que vão sobrar 30 milhões de litros de suco.
Redução planejada para evitar perdas
Na Cooperativa Vinícola Garibaldi, a queda foi de 15% nas vendas. O número é menor do que a retração do setor. Segundo Ló, que preside a vinícola, o resultado ocorreu devido ao planejamento do ano passado. A redução de 15% já estava planejada desde o início de 2016. Como a safra foi menor, havia menos produção a ser comercializada. No ano, a vinícola processou 7,8 milhões de litros. No ano anterior, foram 9 milhões de litros.
Nós últimos anos, o mercado do suco de uva integral estava crescendo em média de 15% a 20%, embalado pela expansão do consumo. Apesar dos números pouco favoráveis para o setor, a expectativa do Ibravin é retomar as vendas do suco de uva para o patamar de anos anteriores.
A retração de vendas do setor de suco de uva passou mais longe na Nova Aliança. A cooperativa de Flores da Cunha, que produz 15 milhões de litros por ano, teve uma redução de apenas 3% no ano passado em comparação a 2015.
O diretor administrativo da Nova Aliança, Rodrigo Colleoni, atribuiu o menor impacto à qualidade, à tradição e às ações adotadas para administrar o ano de crise. Ele avalia o resultado como positivo diante do mercado:
— Menos mal que não chegamos aos números do setor.
Por conta da quebra histórica da safra do ano passado, Colleoni diz que a vinícola pagou acréscimo acima de 90% no valor da fruta. Com o aumento, o suco ficou entre 15 e 20% mais caro.
— Tivemos uma queda de 59% de recebimento de uva em relação a 2015.
Os custos são compostos por diversos fatores como material de embalagem, mão-de-obra e energia elétrica. Colleoni atribuiu a redução na comercialização à elevação do preço.
— Isso certamente fez com que as vendas baixassem. Quando fazíamos promoções nos supermercados, sentíamos a reação de compra dos consumidores. Na medida em que fomos repassando os reajustes, notávamos a retração nas vendas.
Por: André Tajes
Fonte : Zero Hora