CAMPO E LAVOURA | Mais prazo enquanto Estado avalia anistia
Programa do governo do Estado de subsídio a produtores familiares na compra de sacas de sementes, o Troca-Troca de Milho e Sorgo da safra 2019/2020 teve o vencimento novamente prorrogado. O novo prazo é 10 de junho, quando o produtor tem de pagar a sua parte. Em março, o Piratini já havia espichado o prazo, de 30 de abril para 31 de maio. Mas o que o agricultor espera mesmo é uma resposta ao pedido de anistia a esse valor, em razão das perdas causadas pela estiagem.
O assunto está sob avaliação conjunta de Casa Civil, Agricultura e Fazenda. A quantia em aberto soma R$ 17,3 milhões. Como as dificuldades de caixa do Estado são conhecidas, a alternativa para não comprometer o próximo ciclo do programa seria remanejar orçamento. Ou fazer rebate sobre o valor a ser pago pelo produtor.
– Esperamos que até amanhã (hoje) possam apresentar a proposta da anistia, em cima do nosso pedido. Essa é a sinalização da Secretaria da Agricultura, com a qual temos conversado praticamente todo dia – afirma Carlos Joel da Silva, presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do RS (Fetag).
A entidade apresentou a proposta em reunião, no último dia 11, com o titular da Agricultura, Covatti Filho, o chefe da Casa Civil, Otomar Vivian, e os deputados Elton Weber, Edson Brum (MDB) e Frederico Antunes (PP).
– A prorrogação (do vencimento) é para a Fazenda aprovar, para se chegar em um valor para anistiar ou colocar em cima do troca-troca – afirma Covatti Filho.
Enquanto a solução não sai, o produtor mantém a preocupação, em face da consolidação das perdas. Também aguarda resposta da União para a reivindicação entregue em março, junto com outras, de criação do bolsa-estiagem.
Perdas que continuarão no leite
A falta de chuva que castigou as lavouras de grãos de verão também traz efeitos à produção de leite – que são do longo prazo.
– Nosso prejuízo com a estiagem não é imediato, é de mais de um ano. Muitas terneiras e novilhas que seriam criadas terão de ser vendidas ou até abatidas, porque o produtor de leite não tem alimento suficiente para criá-las – diz Marcos Tang, presidente da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Estado (Gadolando).
Ele projeta alta de custos e sugere redução de impostos de insumos. Na alimentação dos animais, por exemplo, há necessidade de suplementação, por perdas em quantidade e qualidade no milho silagem.
NO RADAR
O departamento de Defesa Agropecuária da Secretaria da Agricultura tem novo comando. Rosane Collares, que era chefe da Divisão de Defesa Sanitária Animal, assume o cargo. Ela substituirá o diretor Antonio Carlos de Quadros Ferreira Neto, que solicitou aposentadoria. A nova diretora terá pela frente a missão de dar continuidade ao processo de retirada da vacina contra a febre aftosa.
O ESTADO COMPLETA CINCO ANOS DE RECONHECIMENTO INTERNACIONAL DE ZONA LIVRE DE PESTE SUÍNA CLÁSSICA. STATUS QUE JÁ TINHA DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA DESDE OS ANOS 90. EM 2015, A ORGAINZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE ANIMAL PASSOU A AVALIZAR A CONDIÇÃO. RS E SC FORAM OS PRIMEIROS DO PAÍS A RECEBER A CERTIFICAÇÃO QUE HOJE ALCANÇA 16 ESTADOS.
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safristas estão sendo contratados pela Yara Fertilizantes, que tem no Estado um polo industrial em Rio Grande, três unidades de mistura e um escritório, em Porto Alegre. A maioria das vagas são para atividades de auxiliar de produção, operador de pá-carregadeira, mecânicos e eletroinstrumentistas.
Tempero extra
A combinação de safra reduzida com aumento expressivo de demanda deixou o preço do feijão mais salgado nos meses de março e abril deste ano no país. A Embrapa Arroz e Feijão foi acionada pela Secretaria Nacional do Consumidor, que recebeu denúncias de preços abusivos, com aumentos no valor ao consumidor que chegariam a até 70%.
Pesquisadores do órgão elaboraram nota técnica para mostrar o que estava acontecendo no Brasil. O Ministério da Justiça avaliou que não cabiam investigações adicionais.
– Quando entramos na quarentena, as pessoas passaram a estocar mais. Houve aquecimento da demanda, e isso fez com que os preços subissem um pouco mais. No lado da oferta, não houve essa alta – pondera Alcido Elenor Wander, pesquisador e assessor da chefia da Embrapa Arroz e Feijão, um dos autores da nota técnica.
Ele lembra que a oferta vem sendo ajustada nas últimas duas, três safras. Neste ano, problemas climáticos impactaram a oferta do grão. No caso do Rio Grande do Sul, há particularidades. A primeira é o tipo mais consumido, que é o feijão preto, enquanto no país 60% é o carioca. No caso da variedade preferida dos gaúchos, é possível importar de outros produtores.
– De SP para cima, o carioca é o mais consumido. E esse é o que mais subiu. Não temos de onde importar – explica Wander.
No Estado, a 1ª safra de feijão teve recuo de 14% sobre expectativa inicial em razão da estiagem, ficando em 53,91 mil toneladas. Dados do Centro de Pesquisas Econômicas (Iepe) da UFRGS mostram que o feijão preto vem subindo, fechando abril com valor 4,38% maior do que em janeiro. A cotação média da Emater ao produtor nesta semana é de R$ 196,18 a saca, 5,23% a mais do que a média de maio, mas 3,01% abaixo da geral.
GISELE LOEBLEIN
Fonte: Zero Hora